domingo, 31 de julho de 2011

À Procura da Imagem

Vales vastos esperam
O que lhes percorram
Os desejados limites.

Desertos de sonhos
Vislumbram a direção
Pro vento não nascido.

Oceano profundo
Preenche-se da sede
De águas perdidas.

E quando se fizerem
A saudade terá 
Pra onde olhar.

Benê Dito Deíta

sábado, 30 de julho de 2011

S

S

Será que tudo

isso , não é

o ser humano,

querendo escapar

de ser

só?


Anna Guiomar
28/07/11

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O grito de outrem.

Edvard Munch, O Grito (1893).
“Grito”, um substantivo masculino. Vem do Latim CRITARE, “chamar em altos brados”. O gritar é, sem sombra de dúvidas, uma exclamação sonora; geralmente pautada por um motivo aparente, uma razão.
Não creio em apenas um, mas sim que haja um principal motivo para o que brada Edvard Munch, em seu quadro O Grito (no original Skrik). A tela expressionista, de cores quentes e reduzida simetria, ao que te enche de subjetividade, também te escancara um problema bem humano: a infelicidade. Não me mostra um grito feliz. Não me parece protesto louco, ou bobeira (como a “Boba”, de Anita). Vejo alguém bradando sons agudos, que nem ele mesmo aguenta – por isso tapa os ouvidos – e vejo olhos bem abertos, procurando algo na cena que se desfaz em angústia, escorre pela tela um “puxar”. Puxa-te para o fundo, e para o “parar para pensar” em algo desde sempre esquecido por muitos: o desespero alheio.  

Por: Bruno Guilherme Fonseca


(quarta proposta)                                                                              
                                                                                                        
A Música Cromossomica  - Concerto for Orchestra Sz 116 BB 123 -
Tem alguns anos que subi o morro é virei bartokeiro , uma música estranha, repleta de sons possantes, vigorosos , ansiosos, camponeses – Húngaros.
Algo mais além de sampler
Béla Bartok (1881-1945), Húngaro de nascimento, refugiado Norte Americano para despesas fúnebres, um dos fundadores da Etnomusicologia, creio que com as bênçãos de nosso poeta Mário de Andrade e outros esquecidos da Modernidade nesse meu branco contemporâneo, destaca os caminhos da música camponesa: “A questão é, quais são os caminhos que a música camponesa é assumida e torna-se transformado em música moderna? Podemos, por exemplo, assumir uma melodia camponesa  inalterada ou apenas ligeiramente variada, escrever um acompanhamento a ele e, possivelmente, alguma abertura e conclusão de frases. Esse tipo de trabalho iria mostrar uma certa analogia com o tratamento de Bach de corais. [...] [...] Outro método é o seguinte: o compositor não faz uso de uma melodia camponesa real, mas inventa sua própria imitação de tais melodias. Não há verdadeira diferença entre este método e o descrito acima. [...] Há ainda uma terceira via [...] Nem melodias camponesas nem imitações de melodias camponesas podem ser encontrados em sua música, mas é permeada pela atmosfera da música camponesa. Neste caso, podemos dizer que ele tenha absorvido totalmente o idioma da música camponesa que se tornou sua língua materna musical. (Bartók 1931/1976, 341-44.)” fonte Wikipedia.
Concerto para Orquestra
Do alto de sua cama de hospital, no auge de sua carreira de doente de leucemia, Bela Bartok termina seu tear – Concerto para Orquestra.
Embora tenha a estrutura a cara e o jeito de uma sinfonia, para ele: “não era sinfonia uma sinfonia por causa da forma como cada seção de instrumentos é tratada de uma forma solista e virtuosismo” (Bartok fonte Wikipedia)– os médicos não quiseram contradizer o moribundo. Fato que a música se tornou Hit-Parede para qualquer orquestra sinfônica que quisesse demonstrar o potencial de seus músicos e de seu condutor.
Apesar do virtuosismo que impõe a execução é uma música simples como vida, talvez esteja ai a chave de seu sucesso. Nosso pintor foi sintetizando, suas experiências em tramas musicais especialmente costuradas até terminar seu quadro multidimensional, apropria-se de linguagens maternas ocidentais  conhecidas para delinear um padrão onírico no ouvinte – Sinestesia. Entre a evolução das micro-tramas etnomusicais o compositor conta sua história refletida na historia ancestral e portanto assimiláveis a certos patamares de nosso consciente.
Está segmentado em:  I. Introduzione, II. Giuoco Delle Coppie,  III. Elegia, IV. Intermezzo Interrotto  V. Finale, porém essa segmentação tem um caráter desorientativo no caráter de escrita musical no II. Giuoco Delle Coppie que aponta a um andamento errôneo como destacou o maestro George Solti, mas que pode nos levar a crer Bartok tinha a intenção de Titular de indicar principalmente o movimento do tambor, da puberdade.
A Finale: – o sentimento de urgência, o pressentimento, a certeza poderosa do inevitável, espanto e fim da linga em si.


Emerson Moino Martins
26/07/2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011



Comemorar é o ato de trazer à memória nossos companheiros. Trata-se uma obrigação de trazer de volta pessoas, atos, fatos, risos que dão o sentido de estar ali. Contudo, toda lembrança também requer certa dose de esquecimento. Como suportar a realidade sem apagar uma parte dela? Comemorar é saber aproveitar aquele fragmento de felicidade que, muitas vezes, ninguém mais vê mas é autêntico, porque faz parte de quem somos.
L.O.

Antonello de Messina
São Jerônimo no seu estúdio, 1475-6, óleo sobre madeira, 46 x 36,5 cm. National Gallery de Londres – Inglaterra



Em meu estúdio, as ideias precisam ser claras e lúcidas tal qual meu trabalho. A escrivaninha é reposicionada constantemente a cada nova badalada do sino da Igreja. É necessário aproveitar toda a claridade do dia que o Senhor nos oferece.
Estes manuscritos devem ser entregues com perfeição para a posteridade. Todo cuidado parece insuficiente diante da importância desta tarefa. Minha precisão precisa alcançar a postura adequada de um bom cristão, sempre inclinado na tarefa de doação. Doação de todo e qualquer tempo que esta vida me proporcione.
Da tinta em minha pena, posso formar as letras que viajarão por bibliotecas e monastérios levando A Verdade que transformará o mundo bárbaro.
Leio e releio os textos, incessantemente, para que nenhum detalhe seja esquecido. Lembrar é fundamental. A memória é a condição primeira para a realização desta missão e, também, sua finalidade.
A janela, agora, está entreaberta. Além da luz que me inspira, a solidão me acompanha neste isolamento eterno que só as palavras permitem.
L.O.
O lado soturno da avenida - Texto sobre a obra de Edward Hopper: Nighthawks (1942).

Aquele bar vigiava a cidade que dormia. Era palco das almas mais soturnas e insoniosas. Quatro delas vagavam sob meus olhos. Havia uma figura vaga: um homem com um olhar duro e extraviado, que sumia diante do balcão. Ao seu lado, junto a solidão, estava uma senhora bela, do cabelo e vestido vermelhos. Seu olhar era igualmente fixo (embora mais pretensioso, menos perdido), o repousava diante das próprias mãos. Quem servia os boémios? Senhor grisalho, das costas doloridas, das noites mal dormidas – um coadjuvante na cena. Restava, por fim, outro rapaz, mas este dava as costas à janela. Ao invés de supor, limitei-me apenas ao que via. Detrás ele era suas costas e chapéu, metade sombra e metade escuridão. Um convidativo enigma.

Estes sou eu - autobiografia.

Nasci e ando me criando. Carrego meus tropeços escandalosos, acertos afobados. Sou feito de ego. Amante das letras, das leis e dos que resolvo amar. Em contrapartida, venero a liberdade e, às vezes, gosto de estar só comigo. Sou meus heterônimos, um amontoado de seres desprezíveis e belos.  Criança dúbia sorrindo na madrugada, velho rabugento ao acordar. Partes de mim são alcoolizadas, outras são sensatas.  Partes de mim não sou eu, são partes. Considere o todo se me quiser, se me entender.

São Paulo - Síntese dos dois em outro texto, no contexto histórico atual.

Estonteante cidade dotada de uma beleza catastrófica. Do alto ela é quase paz. De cima ela é luz, um conjunto de veias pulsantes. De baixo, um pouco menos bonita, ela também é tensão nos semáforos e pedintes com fome. Não é segredo, ela é paradoxo: agrega e afasta os que a habitam.
São milhões de corpos guiando seus extintos. Seres atando seus nós e seguindo rotina. Cada qual com seu próprio universo e seus momentos de solidão. Tem a cara dos que a forma. Ela é plural. Pluralidade de culturas, convicções, perspectivas...

Por: Bruno Guilherme Fonseca

(Segunda proposta)

Entre o anseio de escrever e obstáculos.

Havia ainda naquela grande sala alguns raios de sol entrando entre as telhas. Eu estava lá, sentado em um móvel frio e olhando ao meu redor. Inspirações insistiam em surgir. Não podia calá-las, assim como lutar apenas com as armas oferecidas. Ao alcance das mãos, os instrumentos de batalha: pergaminho, tinta e a mente. Foi quando abri o pergaminho e agradeci em voz alta por tê-los. Era o estamento social no qual eu ocupava que me permitia o acesso a tais materiais tão restritos. 
Então, comecei a expressar-me escrevendo, mesmo sem a possibilidade do esboço. Largava alguns parágrafos, a tinta acabava rápido por demais. A impossibilidade de errar deixava-me tenso. Dividia a vontade de escrever com toda a dificuldade presente. Na superfície deslizavam as palavras, isto é, faltava a dureza necessária para o sentido que queria dar ao texto. Como poderia grafar com a complexidade dos meus pensamentos, sem a qualidade de apagar as letras que já não coubessem mais na prosa? E começar tudo outra vez seria doloroso para o punho, vistas e cabeça... E o tempo? O tempo não esperaria o recomeço – como mal esperou o entardecer e tratou de escurecer. As telhas escureceram junto, perderam o tom laranja que iluminava o ambiente. A falta da luz só apagou as ideias (agora demoravam a surgir). Quando a iluminação faltou por total, a ânsia do momento cegou o que pouco já se via. Cessou também, assim, o meu ânimo em escrever...

Por: Bruno Guilherme Fonseca.

(Primeira proposta)