quinta-feira, 21 de julho de 2011

O lado soturno da avenida - Texto sobre a obra de Edward Hopper: Nighthawks (1942).

Aquele bar vigiava a cidade que dormia. Era palco das almas mais soturnas e insoniosas. Quatro delas vagavam sob meus olhos. Havia uma figura vaga: um homem com um olhar duro e extraviado, que sumia diante do balcão. Ao seu lado, junto a solidão, estava uma senhora bela, do cabelo e vestido vermelhos. Seu olhar era igualmente fixo (embora mais pretensioso, menos perdido), o repousava diante das próprias mãos. Quem servia os boémios? Senhor grisalho, das costas doloridas, das noites mal dormidas – um coadjuvante na cena. Restava, por fim, outro rapaz, mas este dava as costas à janela. Ao invés de supor, limitei-me apenas ao que via. Detrás ele era suas costas e chapéu, metade sombra e metade escuridão. Um convidativo enigma.

Estes sou eu - autobiografia.

Nasci e ando me criando. Carrego meus tropeços escandalosos, acertos afobados. Sou feito de ego. Amante das letras, das leis e dos que resolvo amar. Em contrapartida, venero a liberdade e, às vezes, gosto de estar só comigo. Sou meus heterônimos, um amontoado de seres desprezíveis e belos.  Criança dúbia sorrindo na madrugada, velho rabugento ao acordar. Partes de mim são alcoolizadas, outras são sensatas.  Partes de mim não sou eu, são partes. Considere o todo se me quiser, se me entender.

São Paulo - Síntese dos dois em outro texto, no contexto histórico atual.

Estonteante cidade dotada de uma beleza catastrófica. Do alto ela é quase paz. De cima ela é luz, um conjunto de veias pulsantes. De baixo, um pouco menos bonita, ela também é tensão nos semáforos e pedintes com fome. Não é segredo, ela é paradoxo: agrega e afasta os que a habitam.
São milhões de corpos guiando seus extintos. Seres atando seus nós e seguindo rotina. Cada qual com seu próprio universo e seus momentos de solidão. Tem a cara dos que a forma. Ela é plural. Pluralidade de culturas, convicções, perspectivas...

Por: Bruno Guilherme Fonseca

(Segunda proposta)

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