sábado, 27 de agosto de 2011

Literatura Cotidiana



Poderíamos definir as crônicas de Literatura Cotidiana como um mergulho nos acontecimentos corriqueiros da vida de seu autor. Mas essa seria uma explicação simplista demais para qualificarmos o universo da narrativa de Bogado Lins. Suas andanças pelo tempo de hoje ou de ontem, as trajetórias percorridas no cosmopolitismo paulista ou no seu porto seguro carioca traduzem a odisseia da vida de um jovem rapaz que, às vezes, se sente mais velho do que realmente é.
O gosto pela escrita fez com que o blog se transformasse em livro. Suas vivências cotidianas foram relatadas em crônicas semanais em formato “pontocom” desde agosto de 2008. A oportunidade de lançar o livro de fato valorizou a experiência de Bogado como cronista. Reunindo um conjunto de textos cujas temáticas parecem elencadas e misturadas no tempo e no espaço, acompanhamos a vida deste personagem desde a infância até sua experiência como pai.
A publicação impressa de palavras pensadas, originalmente, para o meio digital percorre, exatamente, o caminho oposto das obras que vem sido digitalizadas no contexto da “democracia digital” do século XXI. A diferença é que Literatura Cotidiana já começou democrática. Tanto na escolha de temas comuns na vida contemporânea quanto na oportunidade do contato com os leitores que os Blogs proporcionam. Além disso, Bogado Lins publica textos encaminhados por outros escritores para enriquecer seu próprio cotidiano. 
A formação deste hipertexto digital é uma aventura contextualizada na propagação das redes sociais por diferentes meios, tablets, celulares e computadores cada vez menores e mais práticos. Carregando estes meios no cotidiano, o acesso às informações produziu um novo tipo de sociabilidade concentrada no fragmento e na pouca vivência das experiências em si. Aí está a importância da literatura. Os textos de Bogado Lins nos levam de volta a este gênero, mesmo que utilizando um formato diferente. Curtas e objetivas, as crônicas são um momento de reflexão sobre nossas vivências mais simples, muitas vezes menosprezadas na “correria do dia a dia”. É um momento de respirar, tomar fôlego e continuar.

Por: L.O.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Muitos já me fizeram esta pergunta: por que dedico horas, dias e décadas á escrita. Pois bem, nem eu sei a resposta. Escrevo porque acredito que isso seja arte e espero que alguém possa ler isto daqui uns 300 anos e que as letras que foram desenhadas e tocam este papel possam chegar de encontro dos leitores ávidos por conhecimento que desejam ler e entender a profundidade dos ensinamentos católicos. Estou esperando o sino das seis horas badalar para que eu possa ir embora, estou cansada e as minhas mãos doem, nem vou comentar sobre a minha coluna e as dores que eu sinto. Fico sentada nesta cadeira durante 12 horas diárias, enquanto ouço a vida lá fora. O riso das crianças, a gritaria das pessoas, e penso se ainda vale a pena ficar tanto tempo dedicada á esta tarefa, trancafiada e abraçada á minha própria solidão e a minha consciência. Mas eu já estou velha e não tenho que ter estes questionamentos, além do que o meu ofício está intimamente ligado a minha salvação, trabalho porque sei que assim terei o meu lugar no céu. Passei a manha transcrevendo os textos sagrados, e em um momento de distração esbarrei a tinta da pena sobre o papel. Aquela tinta preta espalhou-se por todo o documento e a mesa foi tomada pela mancha negra. O sino tocou, rapidamente largo a pena diante dos documentos. Tenho o amanha para me preocupar, como sempre, o amanhã.


Por: Livia Maria Orsati Clara



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Grupo "A Imagem Escrita" entrevista Marco Bogado Lins.


Qual o seu escritor preferido?


Eu mudo constantemente de opinião em relação a esta pergunta. Já tive como “escritor preferido” Guimarães Rosa, Nietzsche, Clarice Lispector, Jorge Amado e possivelmente outros que não me lembro.

Hoje eu diria que o meu preferido é um filósofo, chamado André Comte-Sponville. Ele escreveu o livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Dei uma lida superficial em outro livro dele que adquiri recentemente e estou louco para ler.

Qual o seu livro preferido?

Livro eu tenho um favorito há muito tempo, acho que há uns 13 anos: Assim Falou Zaratustra. Mas ele ainda pode mudar.

O que um texto precisa para te chamar atenção?

É difícil definir. Eu sou “readholic”, porém eu diria que eu prefiro os textos que possuem algum pulo do gato. Algo que faça você transitar por ideias inusitadas, sejam reais ou imaginárias. Por isto, gosto muito de textos filosóficos. Porém, também não gosto de leituras complicadas, o pulo do gato tem que vir naturalmente, com exceção de textos mais técnicos, como por exemplo de economia, sociologia ou de psicanálise. Recentemente li a Riqueza das Nações de Adam Smith, que não chega a ser complicado, mas é denso. Mas mesmo estes mais técnicos podem ser mais simples. Eu citaria como exemplo o  Contardo Calligaris.

Qual a importância da disciplina pra um escritor?

É tudo. A disciplina, em minha opinião, é o que separa os escritores amadores daqueles que se pretendem se tornar profissionais. E isto não digo em relação a qualidade, mas sim como ofício. Talvez hajam escritores amadores melhores que escritores profissionais, porém dificilmente eles se projetarão mais do que os que possuem disciplina.


Apenas uma ressalva: disciplina como o exercício constante de escrever. Obviamente existirão mil formas de se disciplinar a escrever.
 


Como se atinge o publico do século XXI que majoritariamente, não tem tempo pra ler e opta por leituras mais simples e rápidas?

Acho que esta pergunta fica para cada escritor responder. Eu tento ser simples e rápido. Meu intuito é que a maior parte dos meus textos sejam fáceis, que a leitura seja fluvial, com algumas exceções.  Quero ser lido por muitas pessoas. Obviamente ainda não consegui, mas pretendo alcançar este objetivo, seja com meu trabalho na agência ou como escritor, propriamente dito. E não teria nenhum problema em ir ao Faustão ou a Ana Maria Braga. Sei lá. Acho que o artista tem que ir aonde o povo está.  Porém, há diferentes formas para cada um e o mercado será cada vez mais aberto para as diferenças.

Qual é o sentido da escrita para você?

Difícil esta pergunta. Acho que a escrita não tem sentido definido. Cada hora terá um. No meu caso, escrever é parte integrante da vida. Seria o mesmo sentido da vida, que também não tem nenhuma definição possível. Cada hora a vida tem um sentido, inclusive, em alguns momentos, não tem sentido algum.

Em seu livro, você comenta que vê a poesia nas notícias de jornal, mas que não as transformaria em filmes, por exemplo, para não perder a magia. Como a poesia passa pelo seu dia a dia e como você seleciona seus temas?

No meu livro, na verdade, eu “parafraseio” uma frase da amiga Duda. Ela sempre diz que Deus é um péssimo roteirista. Isto porque muitas vezes vemos coisas em filmes que dizemos que “isto nunca aconteceria na vida real”, “é muito forçado” e comentários do gênero. Porém, lendo notícias de jornal, por exemplo, você vê coisas ainda mais inacreditáveis.  Acho que o grande lance é isto, perceber a poesia do cotidiano, da vida, dos pequenos e grandes acontecimentos.

Quanto aos meus temas, eu não sei se eu os seleciono. É mais fácil dizer que eles me selecionam, tanto no meu trabalho, que me disciplina a escrever sobre assuntos variados, quanto no meu blog, que o tema aparece sem explicação. Muitas vezes penso num tema, mas não consigo desenvolvê-lo literariamente falando. Enquanto outros, sem explicação possível, saem como uma catarse, ou uma epifania.

Muitas de suas crônicas falam sobre as cidades. Como você definiria a vida de um carioca em São Paulo?

Hoje em dia eu sou mais adaptado. Mas foi muito difícil a minha adaptação. São Paulo é uma conquista. Para quem vem de fora, cada passo é uma vitória aqui. Porém, depois de algumas delas, você acaba fazendo parte da cidade. Fica mais difícil sair daqui. Hoje, acredito que dificilmente eu voltaria a morar no Rio.


Como você relaciona a sua formação escolar com a decisão em se tornar um escritor?

Eu estudei num colégio muito artístico, vamos dizer assim. Muitos dos meus colegas de colégio trabalham na área, outros não. Porém, o importante é que vivenciamos a arte no colégio como algo natural. Eu acredito que devo muito o que sou hoje ao Colégio Pedro II, onde estudei. Já a faculdade, apesar de ter me acrescentado, sem dúvida, não acredito que tenha sido tão fundamental.

Como você vê hoje a situação dos impressos de um modo geral, como livros ou jornais, com todo o avanço da internet e infinitas informações ao alcance?

Os impressos estão em fase de transição para a plataforma digital. Dificilmente acabarão, pelo menos a um médio prazo, mas eu arrisco dizer que eles serão complementares a internet.

Eles inclusive estão se aproveitando de seu poder econômico para conseguirem ser também veículos importantes na web. Mas tenho certeza que muitas empresas não conseguirão fazer esta transição tão bem. Nos Estados Unidos algumas empresas já estão com dificuldades, como o tradicional New York Times, por exemplo. Quem diria há dez anos atrás que o maior investidor deste jornal seria um mexicano?

Após lançar livros com temas do cotidiano você pensa em lançar algum livro de literatura?

Acredito que meu livro é de literatura, ainda que cotidiana... Se você se refere a um livro de contos ou um romance, eu quero muito. Porém, meu texto ainda não  amadureceu o suficiente para tal. Espero que isto aconteça em algum tempo. Os meus textos mais longos acabam “virando” peças de teatro.


A tv apesar de ainda ter a grande audiência da população em geral, você a considera tão persuasiva ao ponto de jamais perder esse status para a internet?

A TV como a conhecemos deve acabar. Porém, o poder da mídia deve migrar para a internet, conforme eu falei mais acima. Isto, porém, não deve significar que manterão o mesmo poder que tem hoje.

A internet permite que o público possa ser mais seletivo quanto ao conteúdo. Não estou me referido obviamente com a qualidade que gostaríamos que ele tivesse, mas com o gosto que ele, o público, efetivamente tem. O público irá atrás daquilo que ele quer, a mídia, no máximo, se posicionará adequadamente para ser o fornecedor disto. Acredito que a concorrência poderá ser muito maior.

Quem é você com a escrita?

Acho que esta pergunta quem deve responder são os leitores. Se a pergunta fosse como eu me vejo na escrita, eu responderia que sou um bom escritor de terceira categoria.

Quem é você sem escrever?

Sou anormal, que nem todo mundo.

Quem é você enquanto escreve?

Alguém que eu não sei definir. Talvez seja outra pergunta para os meus leitores.

E depois de escrever?

Sou crítico, fico lendo e relendo, adorando e odiando, cortando e reescrevendo, até achar que o texto está pronto. Mesmo assim, o texto nunca “está” pronto, somente quando for “publicado”. Até lá, muita coisa pode rolar.

Você sente mais satisfação/prazer no processo de escrever o texto, ou depois de pronto? Por que?

Geralmente durante o processo, ou antes, quando vem o entusiasmo da ideia. Porque muitas vezes quando escrevo, graças a Deus, sou acometido por uma epifania. Isto, claro, nem sempre acontece, mas acho que é o que explica porque eu gosto tanto de escrever mesmo quando não estou “possuído”.

Depois de escrever é um parto. É horroroso. Fico editando, achando que não está bom o suficiente, ou achando que o negócio está bom demais. Sei lá, depois é que é o problema, o antes é o mais legal, sem dúvida e sem “a” dúvida.  Por isto, publicar é bom, porque te força a não mais pensar no texto, aí é partir para o próximo.


Editado por: Julio de Ló

domingo, 14 de agosto de 2011

O céu refletia as cores do mar e as nuvens faziam contraste com a espuma das ondas. A diversidade de cores que compunham a cena me deixou perplexa. O vento batia numa intensidade inimaginável e a gramado seco movia-se como um pendulo, ficar parada alí era quase impossível. Além do que, não havia ninguém, a minha única companhia era o barulho da minha consciência.




Por: Livia Maria Orsati Clara

sábado, 13 de agosto de 2011

exercício.



                                             

A visão do muro da casa que passei a infância, captada pela janela do meu quarto. Os dias sempre tinham sol e calor, sentia muita vontade de sair, mas tinha que estudar. Sair também era difícil, precisava gastar dinheiro, precisava ter bons amigos, atividades, coisas que não estavam bem fundamentadas, se lançar a elas causava sofrimento. Então, se prender à casa. Mas sempre admirar o céu limpo que lhe fazia contraste. A casa também era prazer, o estudo passou a ser tornar prazer, e, por fim, nos levou pra longe da casa e de seu muro “opressor”. Mas ele sempre lembra uma espera desesperada por sair pra fazer algo também não muito preciso.

Eu sou uma pessoa descabelada, com olhos grandes, meio afundados de olheira. Os óculos disfarçam agora. Sou baixa e uso roupas largas. É muito difícil sair da imagem desleixada e confortável da adolescência, gastar horas no espelho. Mas é muito difícil ser respeitada sem impor a imagem de mulher. Ao mesmo tempo que recuso a imagem de mulher se esta trouxer a ideia de submissão à aparência ou aos sentimentos. Prefiro ser homem, ou algo no entremeio.


                   Inícioinícioiníciofimfimfimfimfimfimfimfimfimfimfimfimfimdesesperodesesperofimsemsaídavidatodajogadafora

ok
                                                                                                                                  

                                                                                                                                                         calma



                           verdadesolidão

                                                                                                                     homemulher


                                                                                                 humano



  (elis piera rosa - elispiera@gmail.com)                                                                         

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Triste Partida

Nestes dias de angústia, nada mais rompe a tristeza de perder você
Meu poder, minha força, meu oxigênio disfarça o rastro
Sobrevive ao grande encanto que contesta a rosa morta
Dissolve o manto sobre seu rosto após sua grande partida
Não deixais que nada te atrapalhe no monte da noite
A rocha imensa dificulta sua passagem para a eternidade
Nem só de ar vive o homem, a luz está longe e a vontade falta
O medo se integra a sua alma e não deixa você ser e sorrir
Pelo própolis e pela menta, o cheiro sai fortemente da sua alma
Maravilhoso é o seu poder de atrair qualquer bondade suprema
Já que se foi, que me dê sorte e que eu tenha esperança para continuar
Vivendo, até te encontrar, de novo.

Rafael Dias da Silva

Um descanso, por favor!

Janelas abertas, para ver o sol lá fora
Essa é a única coisa que compensa
Toda essa nossa vida de cão
Por vários morros se passam a vida
Nas circunstâncias que meu destino manda
A posse de meus direitos, não posso perder
A agitação da nossa vida
O barulho chato que acostuma
Mas que sem aquilo não vivo
Pôr em prática a lição de ser gente
Não a máquina que pensam manipular
Mas vida, devo parar, parar, parar...

Rafael Dias da Silva

São Jerônimo, de Messina

Os pássaros e o vento, o som do vento lá fora passando pelas frestas das janelas, o barulho dos pássaros ao longe e eu a manejar meu escrito, um livro, parábolas, uma nova ideia por vir. O que mais posso inserir em  linhas tão solitárias e ávidas por novas palavras a serem escritas com toda minha vontade? Claro, eis aqui o que escrevo...

Rafael Dias da Silva

Imagemnação Futura

Como é bom saber que está presente
Saber que ainda vai poder sorrir
Fazer tudo o que quiser sem receios
Viver e pensar no paraíso próximo
É tudo que ganhamos, merecíamos mais
Não fosse a ingratidão
Portas se abrem, vidas iluminam
A cada clarão há uma esperança
Esperança de colhermos o que plantamos
E que o que plantássemos fossem boas sementes
Para vermos a cor da folha engrossar
Que não se parta em meio ao fogo
Ou que as paredes do estômago não
encostem umas nas outras
Que tudo e todos tenham o de direito
Ou o que merecem, por mais sofrido que seja
Pelas mãos que criaram poderia vir mais
Mas sua semelhança não permite
A criatura que do papel saiu
À areia pede pra voltar
Talvez de onde nunca deveria ter saído
Em nome de todos, que todos se unam
contra todos e a favor de todos para
que possam permanecer onde surgiram
E que tudo não passe de uma pura e
simples imagemnação futura.

Rafael Dias da Silva

domingo, 31 de julho de 2011

À Procura da Imagem

Vales vastos esperam
O que lhes percorram
Os desejados limites.

Desertos de sonhos
Vislumbram a direção
Pro vento não nascido.

Oceano profundo
Preenche-se da sede
De águas perdidas.

E quando se fizerem
A saudade terá 
Pra onde olhar.

Benê Dito Deíta

sábado, 30 de julho de 2011

S

S

Será que tudo

isso , não é

o ser humano,

querendo escapar

de ser

só?


Anna Guiomar
28/07/11

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O grito de outrem.

Edvard Munch, O Grito (1893).
“Grito”, um substantivo masculino. Vem do Latim CRITARE, “chamar em altos brados”. O gritar é, sem sombra de dúvidas, uma exclamação sonora; geralmente pautada por um motivo aparente, uma razão.
Não creio em apenas um, mas sim que haja um principal motivo para o que brada Edvard Munch, em seu quadro O Grito (no original Skrik). A tela expressionista, de cores quentes e reduzida simetria, ao que te enche de subjetividade, também te escancara um problema bem humano: a infelicidade. Não me mostra um grito feliz. Não me parece protesto louco, ou bobeira (como a “Boba”, de Anita). Vejo alguém bradando sons agudos, que nem ele mesmo aguenta – por isso tapa os ouvidos – e vejo olhos bem abertos, procurando algo na cena que se desfaz em angústia, escorre pela tela um “puxar”. Puxa-te para o fundo, e para o “parar para pensar” em algo desde sempre esquecido por muitos: o desespero alheio.  

Por: Bruno Guilherme Fonseca


(quarta proposta)                                                                              
                                                                                                        
A Música Cromossomica  - Concerto for Orchestra Sz 116 BB 123 -
Tem alguns anos que subi o morro é virei bartokeiro , uma música estranha, repleta de sons possantes, vigorosos , ansiosos, camponeses – Húngaros.
Algo mais além de sampler
Béla Bartok (1881-1945), Húngaro de nascimento, refugiado Norte Americano para despesas fúnebres, um dos fundadores da Etnomusicologia, creio que com as bênçãos de nosso poeta Mário de Andrade e outros esquecidos da Modernidade nesse meu branco contemporâneo, destaca os caminhos da música camponesa: “A questão é, quais são os caminhos que a música camponesa é assumida e torna-se transformado em música moderna? Podemos, por exemplo, assumir uma melodia camponesa  inalterada ou apenas ligeiramente variada, escrever um acompanhamento a ele e, possivelmente, alguma abertura e conclusão de frases. Esse tipo de trabalho iria mostrar uma certa analogia com o tratamento de Bach de corais. [...] [...] Outro método é o seguinte: o compositor não faz uso de uma melodia camponesa real, mas inventa sua própria imitação de tais melodias. Não há verdadeira diferença entre este método e o descrito acima. [...] Há ainda uma terceira via [...] Nem melodias camponesas nem imitações de melodias camponesas podem ser encontrados em sua música, mas é permeada pela atmosfera da música camponesa. Neste caso, podemos dizer que ele tenha absorvido totalmente o idioma da música camponesa que se tornou sua língua materna musical. (Bartók 1931/1976, 341-44.)” fonte Wikipedia.
Concerto para Orquestra
Do alto de sua cama de hospital, no auge de sua carreira de doente de leucemia, Bela Bartok termina seu tear – Concerto para Orquestra.
Embora tenha a estrutura a cara e o jeito de uma sinfonia, para ele: “não era sinfonia uma sinfonia por causa da forma como cada seção de instrumentos é tratada de uma forma solista e virtuosismo” (Bartok fonte Wikipedia)– os médicos não quiseram contradizer o moribundo. Fato que a música se tornou Hit-Parede para qualquer orquestra sinfônica que quisesse demonstrar o potencial de seus músicos e de seu condutor.
Apesar do virtuosismo que impõe a execução é uma música simples como vida, talvez esteja ai a chave de seu sucesso. Nosso pintor foi sintetizando, suas experiências em tramas musicais especialmente costuradas até terminar seu quadro multidimensional, apropria-se de linguagens maternas ocidentais  conhecidas para delinear um padrão onírico no ouvinte – Sinestesia. Entre a evolução das micro-tramas etnomusicais o compositor conta sua história refletida na historia ancestral e portanto assimiláveis a certos patamares de nosso consciente.
Está segmentado em:  I. Introduzione, II. Giuoco Delle Coppie,  III. Elegia, IV. Intermezzo Interrotto  V. Finale, porém essa segmentação tem um caráter desorientativo no caráter de escrita musical no II. Giuoco Delle Coppie que aponta a um andamento errôneo como destacou o maestro George Solti, mas que pode nos levar a crer Bartok tinha a intenção de Titular de indicar principalmente o movimento do tambor, da puberdade.
A Finale: – o sentimento de urgência, o pressentimento, a certeza poderosa do inevitável, espanto e fim da linga em si.


Emerson Moino Martins
26/07/2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011



Comemorar é o ato de trazer à memória nossos companheiros. Trata-se uma obrigação de trazer de volta pessoas, atos, fatos, risos que dão o sentido de estar ali. Contudo, toda lembrança também requer certa dose de esquecimento. Como suportar a realidade sem apagar uma parte dela? Comemorar é saber aproveitar aquele fragmento de felicidade que, muitas vezes, ninguém mais vê mas é autêntico, porque faz parte de quem somos.
L.O.

Antonello de Messina
São Jerônimo no seu estúdio, 1475-6, óleo sobre madeira, 46 x 36,5 cm. National Gallery de Londres – Inglaterra



Em meu estúdio, as ideias precisam ser claras e lúcidas tal qual meu trabalho. A escrivaninha é reposicionada constantemente a cada nova badalada do sino da Igreja. É necessário aproveitar toda a claridade do dia que o Senhor nos oferece.
Estes manuscritos devem ser entregues com perfeição para a posteridade. Todo cuidado parece insuficiente diante da importância desta tarefa. Minha precisão precisa alcançar a postura adequada de um bom cristão, sempre inclinado na tarefa de doação. Doação de todo e qualquer tempo que esta vida me proporcione.
Da tinta em minha pena, posso formar as letras que viajarão por bibliotecas e monastérios levando A Verdade que transformará o mundo bárbaro.
Leio e releio os textos, incessantemente, para que nenhum detalhe seja esquecido. Lembrar é fundamental. A memória é a condição primeira para a realização desta missão e, também, sua finalidade.
A janela, agora, está entreaberta. Além da luz que me inspira, a solidão me acompanha neste isolamento eterno que só as palavras permitem.
L.O.
O lado soturno da avenida - Texto sobre a obra de Edward Hopper: Nighthawks (1942).

Aquele bar vigiava a cidade que dormia. Era palco das almas mais soturnas e insoniosas. Quatro delas vagavam sob meus olhos. Havia uma figura vaga: um homem com um olhar duro e extraviado, que sumia diante do balcão. Ao seu lado, junto a solidão, estava uma senhora bela, do cabelo e vestido vermelhos. Seu olhar era igualmente fixo (embora mais pretensioso, menos perdido), o repousava diante das próprias mãos. Quem servia os boémios? Senhor grisalho, das costas doloridas, das noites mal dormidas – um coadjuvante na cena. Restava, por fim, outro rapaz, mas este dava as costas à janela. Ao invés de supor, limitei-me apenas ao que via. Detrás ele era suas costas e chapéu, metade sombra e metade escuridão. Um convidativo enigma.

Estes sou eu - autobiografia.

Nasci e ando me criando. Carrego meus tropeços escandalosos, acertos afobados. Sou feito de ego. Amante das letras, das leis e dos que resolvo amar. Em contrapartida, venero a liberdade e, às vezes, gosto de estar só comigo. Sou meus heterônimos, um amontoado de seres desprezíveis e belos.  Criança dúbia sorrindo na madrugada, velho rabugento ao acordar. Partes de mim são alcoolizadas, outras são sensatas.  Partes de mim não sou eu, são partes. Considere o todo se me quiser, se me entender.

São Paulo - Síntese dos dois em outro texto, no contexto histórico atual.

Estonteante cidade dotada de uma beleza catastrófica. Do alto ela é quase paz. De cima ela é luz, um conjunto de veias pulsantes. De baixo, um pouco menos bonita, ela também é tensão nos semáforos e pedintes com fome. Não é segredo, ela é paradoxo: agrega e afasta os que a habitam.
São milhões de corpos guiando seus extintos. Seres atando seus nós e seguindo rotina. Cada qual com seu próprio universo e seus momentos de solidão. Tem a cara dos que a forma. Ela é plural. Pluralidade de culturas, convicções, perspectivas...

Por: Bruno Guilherme Fonseca

(Segunda proposta)

Entre o anseio de escrever e obstáculos.

Havia ainda naquela grande sala alguns raios de sol entrando entre as telhas. Eu estava lá, sentado em um móvel frio e olhando ao meu redor. Inspirações insistiam em surgir. Não podia calá-las, assim como lutar apenas com as armas oferecidas. Ao alcance das mãos, os instrumentos de batalha: pergaminho, tinta e a mente. Foi quando abri o pergaminho e agradeci em voz alta por tê-los. Era o estamento social no qual eu ocupava que me permitia o acesso a tais materiais tão restritos. 
Então, comecei a expressar-me escrevendo, mesmo sem a possibilidade do esboço. Largava alguns parágrafos, a tinta acabava rápido por demais. A impossibilidade de errar deixava-me tenso. Dividia a vontade de escrever com toda a dificuldade presente. Na superfície deslizavam as palavras, isto é, faltava a dureza necessária para o sentido que queria dar ao texto. Como poderia grafar com a complexidade dos meus pensamentos, sem a qualidade de apagar as letras que já não coubessem mais na prosa? E começar tudo outra vez seria doloroso para o punho, vistas e cabeça... E o tempo? O tempo não esperaria o recomeço – como mal esperou o entardecer e tratou de escurecer. As telhas escureceram junto, perderam o tom laranja que iluminava o ambiente. A falta da luz só apagou as ideias (agora demoravam a surgir). Quando a iluminação faltou por total, a ânsia do momento cegou o que pouco já se via. Cessou também, assim, o meu ânimo em escrever...

Por: Bruno Guilherme Fonseca.

(Primeira proposta)